Na equitação existem muitos momentos nos quais apetece atuar mais do que devemos com os nossos cavalos em vez de “esperar pela sua cedência de forma ativa”.
Durante o nosso trabalho, é comum que um cavalo fique tenso na mão e a nossa reação seja puxar para atrás, ao mesmo tempo que lhe pedimos algo com as pernas. Nesses momentos de “conflito”, há que ser muito cauteloso para não destruir a boa vontade (e a boca) do nosso cavalo. Muitas vezes, preferimos recorrer a outras ações, perdemos a paciência ou podemos passar por alto certos indícios de tensão no cavalo que não deixam que consigamos prever a reação seguinte tornando-o um animal imprevisível sem necessidade.
Neste exemplo temos uma poldra de 4 anos a iniciar-se nos saltos que, ao ser novidade, tem a sua reação normal de cavalo novo, o salto é algo que lhe provoca tensão: tem cores, não sabe muito bem o que fazer com o mesmo e lhe custa aproximar-se de frente. Pareceu-me adequado falar sobre este momento em concreto já que são muitos os poldros bons que ficam perdidos devido à má interpretação e às ações erradas e precipitadas dos seus cavaleiros. O poldro não é e não podemos esperar que seja um cavalo de salto. Um poldro tem de familiarizar-se com o material de trabalho, neste caso, os saltos. Pouco mais podemos esperar dele. Se esperarmos mais, estaremos enganados.
Fotografia 1 da sequência: A égua está tensa e sem vontade de estar onde está, preferiria ir embora do salto que lhe estou a mostrar.
- A tensão corporal que mostra através dos seus músculos tensos e o lábio superior longo e tenso, faz com que fique completamente insensível às minhas ajudas para diante se as estivesse a pedir, e se assim o fizesse, de certeza que iria fugir para o lado direito. (Note a posição do pescoço e o peso que a égua põe para o seu lado direito).
- A cauda ligeiramente levantada, indica que está pronta para andar, mas o seu corpo indica que não o vai fazer para adiante. A minha intenção é manter a égua parada até descontrair o suficiente para avançar um passo ou dois.
- A égua está a forçar a minha mão devido à sua vontade de sair pela direita . A mão não mexe, mas também não cede (se o fizesse, a égua iria sair pela direita e eu ia perder o controlo sobre o seu corpo) pois pretendo que a égua fique descontraída precisamente naquela posição. Para tal tenho de lhe estabelecer os limites. Se continuar a forçar a minha mão, vai sentir-se incómoda na boca. Terá de descontrair para deixar de sentir o incómodo.
- A mão esquerda procura desviar a atenção da égua até mim. A mão direita continua com o seu trabalho de “espera ativa”.
Fotografia 2 da sequência a égua desviou a atenção do salto, levantou a cara, olhou longe deixando de lado um pouco a vontade de sair do salto pela direita (já não põe o peso sobre a espádua direita). Apesar de continuar tensa já não força a minha mão, dando-me a oportunidade de avançar uns passos para o salto.
Fotografia 3 da sequência: Conseguimos avançar uns passos (demoramos o tempo suficiente para que o sol ficasse tapado por uma núvem 🙂 ) e:
- A égua volta a estar em tensão, nota-se pelo lábio superior tenso, de novo a atenção negativa ao salto (o peso está de novo encima da espádua direita pronta para sair para o lado no caso de eu ceder).
- A minha mão volta a estar à espera pela cedência de forma ativa. A égua está a forçar (note o meu braço), eu não puxo para trás porque isso iria magoar a boca e seria contraproducente, pois não quero magoar, procuro descontração e para tal, novamente tenho de limitar seu movimento dentro do seu estado de tensão.
- A única coisa que posso fazer agora é esperar. Não fazer nada mais do que limitar com essa mão que está sendo forçada pela égua. Não falta muito para a cedência, pois sente-se incómoda e isso a está a desviá-la da sua atenção negativa ao obstáculo. Para deixar de se sentir incomodidade, terá de descontrair, deixando de fugir para se centrar em mim pois pretendo que confie em mim para estar perto do salto e mais tarde saltá-lo sem medos.
Nestes momentos é muito fácil cair na tentação de utilizar as esporas e a varinha, mas é tudo contraproducente e se o fizesse, o trabalho de base iria ficar a meias. Ser paciente mas ativo na espera, é o melhor que podemos fazer para um resultado a longo prazo. Não será preciso esperar muito, pois a égua se encontra numa situação na que lhe é preferível confiar em mim do que seguir tentando fugir do salto.
Fotografia 4: Na última imagen vemos a cedênica tão esperada. A mina mão ficou à espera o tempo suficiente. Dissipou a tensão, a boca relaxou, o corpo abrandou. A sua mão começa a avançar com calma.
Não passamos ainda, por cima do salto mas conseguimos uma pequena vitória sem procurar nenhum tipo de briga. Se fosse um riacho, uma poça, ou algo que não inspire confiança no poldro, o procedimento seria o mesmo.
Quantas vezes já conseguimos iniciar uma briga por causa de momentos como este? E quantas vezes já vimos o resultado dessa briga refletido nas vezes seguintes que temos um conflito parecido sendo as reações do cavalo cada vez piores?
Se leu o libro Cómo ganar la confianza de un caballo en cinco pasos(encontra-se a ser traduzido para a língua portuguesa), aprendeu a tomar atenção a estes momentos importantíssimos nos quais um cavalo nos cede a sua atenção, sua tranquilidade e a sua confiança. É da repetição destes momentos que está feita a equitação.
Equierrores está a preparar um serviço no qual poderá enviar um vídeo e nós lho devolvemos comentado na íntegra. Dentro de pouco, abriremos o serviço com uns bónus, a possibilidade de aceder a este serviço a preço de promoção (vagas limitadas) e outras muitas oportunidades que lhe podem interessar 🙂
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Mais um artigo com imenso interesse em que se aprende sempre mais.
Obrigado Niky
Muito obrigada João pelo comentario, espero ter o que é preciso para a tradução dos post para portugués 🙂 para já este é o único mas não o último! A minha sorte é que os portugueses têm muita facilidade para lêr em Espanhol, uma grande virtude 🙂